sexta-feira, 17 de maio de 2013

Avesso


Grito aos homens indolentes
Que parem e acalmem esta dor!
E aos músculos que tem força
Que me tirem deste horror!

Eu que sou homem etiqueta
E não sei mais viver disforme
Sou quadrado, me tornando
Redondo ou delgado
De acordo a ordem, dentro dos conformes.

E minhas idiossincrasias
Que outrora desenhavam feições tão minhas
Agora são estampas!
E eu que luto contra o sistema
Tenho em minha cabeça moldura produzida em série,
Por todo nós que somos contra.

E como ser eu, onde todos os eu’s que posso ser
Já foram aparentemente produzidos?
Choro num canto, cinematograficamente reprimido.
Nos reunimos em debates, protestos e mesas redondas.
E vamos pra nossas casas remando, a favor da onda.

Almejamos alcançar os  meios
Que tantos criticamos
Que causa graça e desgraça
Desfaz verdade e faz enganos.

Pensamentos diferentes,
Mas o mesmo meio de chegar.
Nos degladiamos, atropelamos,
Queremos chegar ao mesmo lugar,
Impomos nossa cultura e estilo andar.
Será que também não queremos manipular?

Sempre me pergunto que diversidade
É essa que cabe num check-list,
Porque precisamos do meio-manipulador para dar o revide?

E no fim das contas percebo que não
Sei o que estou fazendo.
Muito estudo e me divirto para mostrar
O que sou por dentro
Mas quem sou além do descontentamento?

                                                          Ivy Coelho


                                                             16/05/13

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Zero

Beija-me a boca e esqueço de tudo
Faz-me nua em seus braços e desperta o eu mais profundo
Eu que se consome em ti,
Como vela acesa, chamando sua cera.
Velando a noite, a lua, a cheia.

Beijo tua boca e sou dona do mundo
Sobe-me a espinha um arrepio fundo
De onde eu nem sabia que existia
Onde há paz e fúria, fogo e ambrosia.

Entrego-me a ti no olhar,
Recuso reclusa o futuro próximo ansiar
Pois vivo na gostosa incerteza de onde o barco há de ancorar.

                                                                             Ivy de Almeida Coelho
                                                                                  10/05/2013 – 15:39


P.S.: Zero, porque o zero é o ínicio e o fim de tudo numa coisa só.